O fenômeno do Brainrot italiano: o que está por trás das palavras que não fazem sentido
- Fabiola Ghilardi
- 20 de jul.
- 3 min de leitura

No início de 2025, usuários de redes sociais como TikTok e Instagram começaram a repetir nomes e frases aparentemente italianas, como ballerina cappuccina, chimpanzini bananini ou bombardino crocodilo. O que todas essas expressões têm em comum é o fato de soarem como italiano, mas não pertencerem ao idioma real. Trata-se do fenômeno conhecido como brainrot italiano — um tipo de conteúdo viral baseado na repetição de palavras absurdas, muitas vezes sem qualquer estrutura linguística válida.
O termo brainrot, do inglês, indica um “apodrecimento cerebral” causado pelo consumo repetitivo de conteúdos vazios. No caso do italiano, o fenômeno associa imagens exageradas de criaturas geradas por IA a nomes que imitam a sonoridade da língua italiana.
O resultado é um tipo de “italiano de aparência” que se espalha com velocidade, especialmente entre crianças e adolescentes.

O que faz esses termos parecerem italianos?
Grande parte do apelo está na forma das palavras. O italiano possui uma estrutura fonológica facilmente reconhecível: terminações em vogal, ritmo regular, abundância de sufixos diminutivos e aumentativos. Isso permite a criação de palavras que soam italianas, ainda que não tenham significado algum.
Alguns exemplos:
ballerina cappuccina → usa dois substantivos femininos com sufixos reais -ina, mas sem lógica combinatória.
chimpanzini bananini → aplicação do sufixo plural -ini de forma repetitiva e sem base gramatical.
bombardino crocodilo → mistura de palavras reais desconectadas de qualquer contexto.
Essa estratégia de repetição sonora, apoiada em um repertório fonético previsível, induz o ouvinte a aceitar essas palavras como parte do idioma, mesmo quando não são.
Consequências para o ensino e o aprendizado
Para quem estuda a língua italiana, o brainrot italiano oferece um falso ponto de partida. Ao contrário do que muitos imaginam, esse tipo de conteúdo não ensina vocabulário, nem melhora a compreensão da estrutura linguística. Ao repetir palavras sem sentido apenas pela sonoridade, o que se memoriza não é a língua — mas sim um ruído que se parece com ela.
Do ponto de vista didático, o fenômeno contribui para a desinformação linguística. Estudantes iniciantes podem ser levados a acreditar que termos como bananini ou tralalero fazem parte do vocabulário italiano, quando, na verdade, não passam de construções artificiais criadas para o consumo rápido e descompromissado.
Por que o italiano foi escolhido?
O italiano é frequentemente associado a estereótipos culturais amplamente divulgados pela mídia: gesticulação, música, comida, expressividade vocal. Esses elementos visuais e sonoros foram instrumentalizados pelas redes para construir uma caricatura de italianidade, explorando apenas a superfície do idioma.
Importante destacar que esse tipo de conteúdo não contribui para a valorização da cultura ou da língua italiana, tampouco reflete a realidade social do país. Ele serve apenas como insumo de entretenimento viral, desvinculado da língua como sistema.
A ilusão da familiaridade
O risco mais concreto do brainrot italiano está em criar uma sensação falsa de familiaridade com a língua, como se repetir sons que “lembram” italiano fosse suficiente para compreendê-la ou usá-la. Na prática, esse tipo de exposição não ensina estruturas verbais, não transmite vocabulário real, nem promove alfabetização linguística.
Para quem pretende morar, trabalhar, estudar ou simplesmente se comunicar de verdade em italiano, é essencial compreender que aprender um idioma não é um passatempo visual ou sonoro, mas uma atividade intelectual que exige método, clareza, análise e prática consciente.
Muito além do tralalero
O sucesso viral de expressões como ballerina cappuccina ou bombardino crocodilo pode até gerar curiosidade pela língua italiana, mas é importante ter clareza: essas palavras não existem no vocabulário real do idioma. Elas são montagens sonoras sem função gramatical ou sentido prático.
Aprender italiano vai muito além de repetir sons que imitam a língua. Exige atenção ao uso correto dos sufixos, ao vocabulário real, às estruturas verbais, à cultura por trás de cada termo.
O brainrot pode até grudar na memória — mas o que fica, muitas vezes, não é o idioma, e sim uma caricatura dele. Saber identificar esse limite é o primeiro passo para quem quer realmente aprender italiano, com significado, contexto e consciência linguística.
O brainrot italiano é um fenômeno digital que simula o idioma, mas não o ensina. Serve para entreter, repetir e viralizar — não para formar.
Ao consumir esse tipo de conteúdo, é importante manter o senso crítico e a consciência de que nenhuma dessas palavras tem utilidade real para a comunicação.
Estudar italiano exige mais do que repetir fórmulas estéticas. Exige método, exposição ao uso correto do idioma, e distanciamento dos ruídos que simulam linguagem sem oferecer conteúdo.
O aprendizado de uma língua estrangeira deve ser um processo racional e bem fundamentado — não uma reação ao ruído viral das redes.
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